sábado, 30 de outubro de 2010

Porque nada se perde, (e nem) tudo se transforma ♥

Entrei no barco e sentei-me.
Entre dezenas de cadeiras, aquela chamou-me a atenção. Nela batia o sol, ao lado de uma ampla janela que mostrava um longo rio, azul, calmo..

Eram três da tarde e, naquela cadeira, naquele barco, eu me preparava para a viagem, curta..
Mais uma das tantas que faço, todos os dias. Normal, mas que nunca perdera de todo a sua beleza.
As cores e as sombras, a calma e o movimento, as pessoas e as conversas..

Preparava-me para uma viagem, mas, quando dei por mim, não era a que pensava..

Assim que me sentei, notei que os meus pés não tocavam o chão..
A cadeira era alta para mim ou eu baixa para a cadeira, não importa. Achei piada.
Como que de forma inconsciente, as minhas pernas começaram a baloiçar..

Parecia que seguiam uma melodia, que mudava, mas não desafinava nunca..
Com leveza e descontracção, como se pudessem dançar, livremente e discretamente, ao mesmo tempo.
Baloiçaram e baloiçaram e recordações começaram a surgir.

Lembrei-me de uma altura em que todas as cadeiras eram altas para mim ou eu baixa para todas elas.
Não importa mesmo. Eu achava piada.

Foi o inicio da minha viagem, a verdadeira.

Memórias e memórias de lugares, pessoas, brincadeiras, choros e sorrisos.
Memórias e memórias de momentos, momentos em que pouco sabia da vida, mas muito vivia, porque vivia intensamente, com tudo de mim, sem pensar.

De olhos fechados, passei a viagem, naquele barco.
Uma viagem igual e diferente das outras.

E não podia ter vindo em melhor altura..

Abri os olhos. Tinha chegado.
Tão curta viagem parecia ter demorado horas.

E deixou-me saudades..

Saudades de quando as minhas pernas baloiçavam, livres, em todas as cadeiras, dançando.
Saudades de correr, saltar e rodopiar, sempre que me desse vontade para tal.
Saudades de pintar com as mãos, mexer na terra, de me sujar.
Saudades de brincar, imaginar, comigo e com todos.
Saudades de puder ser tudo, sonhar tudo, porque tudo era possível.
Saudades de dizer 'Quando for crescida..".
Saudades de ser inocente, de pensar que uma pessoa má era aquela que me tirava um brinquedo ou que me mandava para a cama.
Saudades de não julgar sem conhecer, de desejar conhecer o desconhecido e de não saber o porquê das coisas, mas perceber que elas eram como eram.
Saudades de ter mais razão do que muitos pensavam, exactamente por demais pensarem.
Saudades de não ter medo porque não tinha preocupações.
Saudades de dizer e fazer, sem me preocupar com o que os outros pensavam sobre o que eu dizia e fazia.
Saudades de ser eu, sem pensar duas vezes.

No fundo, saudades de voltar aquele barco que me trouxe um Mundo que pode não voltar, mas ficou.

E não estou a fugir do que tenho, digo, faço, penso, sinto e sou agora.. Mas deixou saudades.

Que tenhamos sempre em nós a criança que outrora fomos, porque foi aí que fomos mais, em todos os sentidos.. Mais importante, que sejamos sempre essa criança, em todos os sentidos.

1 comentário:

  1. Não sentiste saudades de ser gordinha e fofinha como eras? :P

    O passado faz parte dele mesmo e, apesar das saudades, temos de perceber que ainda muito está para vir. Já vivemos muitas coisas boas mas ainda muitas estão para vir.

    Daqui a uns tempos vamos perceber que valeu (e vale) a pena viver sempre mais um dia porque há sempre novas coisas para descobrir, para viver ... muitas coisas que, um segundo depois de acontecerem, já vão fazer parte do passado e que vamos recordar-nos delas como tal, como algo que já foi e que não se vai repetir ♥

    O futuro corre à nossa frente. Não devemos apressar-nos para o tentar ultrapassar. Tudo a seu tempo ♥ ♥

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