domingo, 31 de outubro de 2010

Entre-Tanto ..

Quero fechar os olhos e dormir, dormir durante horas, profundamente.
Quero sonhar, sonhos bons, cor.de.rosa por assim dizer.. Toda a noite, acordar com um sorriso mesmo que deles não me lembre.

Preciso disso.

A televisão está acesa e nela vejo imagens que me chocam, me entristecem, me fragilizam.
Imagens que não imagino reais, imagens que nem sequer o deviam ser.
Não consigo nem quero desligá-la. Não podiam ter vindo em melhor altura..

Escrevo e começo a chorar, choro enquanto escrevo. Alivia.

Choro por mim, por nós, por eles.
Choro pelas imagens, pela realidade, pela vida.
Não sei se devia chorar, mas choro.

Vejo estas imagens e vejo que há vidas que não são vida, vidas que para o serem por muito passam.
Vidas que me fazem olhar para os seus donos e sentir o maior do respeito e admiração.


Vejo neles força que não aparento ter, coragem que deveria ganhar e alegria que poderia agarrar.
Vejo vida e ainda mais vontade de viver.

Realmente, parva de mim, lágrimas por vidas facilitadas..
Parva de mim que tenho tudo o que preciso e nunca nada me faltou, penso.

Bem.. Sofremos à altura da nossa vida.
Chateamo-nos quando nos obrigam a comer algo que não gostamos.. Mas é porque nunca passámos fome.
Ficamos tristes quando não podemos comprar uma roupa que gostamos.. Mas é porque nunca nos faltou roupa para vestir.
Fartamo-nos dos trabalhos e estudos.. Mas é porque sempre nos foi possivel estudar.

Esta é a verdade.
E não quer dizer que seja um sofrimento errado.. Apenas o é e tão válido como qualquer outro.
Não controlamos o que sentimos, controlamos o que pensamos.. Mas de nada adianta.

Aquelas imagens..
Choro pelo pouco que é, face a vidas tão mais dificeis, mas pelo que tão grande parece, na vida que conheço.

Mas agora parei.
Vou voltar a chorar, eventualmente.
Vou voltar a achar que muita coisa está mal, que muita coisa não é certa, é injusta, maldosa, desumana, para mim, para nós e para eles. Mais importante.. Vou voltar a senti-lo dessa forma.

Mas agora, agora que parei de chorar.. Agora vejo algo diferente.
Vejo que é com cada choro que cresço, que aprendo, que vivo mais.
É por chorar agora que depois vou saber sorrir melhor..

É com o que sofremos que menos sofremos, é com o que vivemos que construimos vida e que cada vez vivemos mais e com vontade e aproveitamos mais.

Pobres daqueles que mais sofrem, mas grandes as pessoas que são.
Lutam, caem, levantam-se e lutam, lutam e sorriem, ao mesmo tempo. Ganham.

Verdadeiros heróis, nas histórias das suas vidas. 
Ainda maiores, na história da minha :)

E agora? Neste momento, agradeço e valorizo tudo o que tenho e posso, tudo o que penso e sinto.
O resto? O resto resolve-se, passa, vence-se.

sábado, 30 de outubro de 2010

Porque nada se perde, (e nem) tudo se transforma ♥

Entrei no barco e sentei-me.
Entre dezenas de cadeiras, aquela chamou-me a atenção. Nela batia o sol, ao lado de uma ampla janela que mostrava um longo rio, azul, calmo..

Eram três da tarde e, naquela cadeira, naquele barco, eu me preparava para a viagem, curta..
Mais uma das tantas que faço, todos os dias. Normal, mas que nunca perdera de todo a sua beleza.
As cores e as sombras, a calma e o movimento, as pessoas e as conversas..

Preparava-me para uma viagem, mas, quando dei por mim, não era a que pensava..

Assim que me sentei, notei que os meus pés não tocavam o chão..
A cadeira era alta para mim ou eu baixa para a cadeira, não importa. Achei piada.
Como que de forma inconsciente, as minhas pernas começaram a baloiçar..

Parecia que seguiam uma melodia, que mudava, mas não desafinava nunca..
Com leveza e descontracção, como se pudessem dançar, livremente e discretamente, ao mesmo tempo.
Baloiçaram e baloiçaram e recordações começaram a surgir.

Lembrei-me de uma altura em que todas as cadeiras eram altas para mim ou eu baixa para todas elas.
Não importa mesmo. Eu achava piada.

Foi o inicio da minha viagem, a verdadeira.

Memórias e memórias de lugares, pessoas, brincadeiras, choros e sorrisos.
Memórias e memórias de momentos, momentos em que pouco sabia da vida, mas muito vivia, porque vivia intensamente, com tudo de mim, sem pensar.

De olhos fechados, passei a viagem, naquele barco.
Uma viagem igual e diferente das outras.

E não podia ter vindo em melhor altura..

Abri os olhos. Tinha chegado.
Tão curta viagem parecia ter demorado horas.

E deixou-me saudades..

Saudades de quando as minhas pernas baloiçavam, livres, em todas as cadeiras, dançando.
Saudades de correr, saltar e rodopiar, sempre que me desse vontade para tal.
Saudades de pintar com as mãos, mexer na terra, de me sujar.
Saudades de brincar, imaginar, comigo e com todos.
Saudades de puder ser tudo, sonhar tudo, porque tudo era possível.
Saudades de dizer 'Quando for crescida..".
Saudades de ser inocente, de pensar que uma pessoa má era aquela que me tirava um brinquedo ou que me mandava para a cama.
Saudades de não julgar sem conhecer, de desejar conhecer o desconhecido e de não saber o porquê das coisas, mas perceber que elas eram como eram.
Saudades de ter mais razão do que muitos pensavam, exactamente por demais pensarem.
Saudades de não ter medo porque não tinha preocupações.
Saudades de dizer e fazer, sem me preocupar com o que os outros pensavam sobre o que eu dizia e fazia.
Saudades de ser eu, sem pensar duas vezes.

No fundo, saudades de voltar aquele barco que me trouxe um Mundo que pode não voltar, mas ficou.

E não estou a fugir do que tenho, digo, faço, penso, sinto e sou agora.. Mas deixou saudades.

Que tenhamos sempre em nós a criança que outrora fomos, porque foi aí que fomos mais, em todos os sentidos.. Mais importante, que sejamos sempre essa criança, em todos os sentidos.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Sobre pessoas, para pessoas ..

Apetece-me falar sobre pessoas..

Não sobre mim, sobre a, b ou até c..
Não se são gordas ou magras, altas ou baixas, se têm um cabelo brilhante ou uns lindos olhos.. Não..
Apetece-me de falar de pessoas, até porque nós somos isto e aquilo porque somos pessoas, porque lidamos como pessoas e como pessoas, porque vem de nós e dos outros ver o que vemos, ser o que somos.

O mais importante de ser pessoa é o poder de sentir e fazer sentir, ser e fazer ser.
Sentir amor, sentir respeito, sentir desgosto ou até tristeza, ser alegre, ser nervoso, ser grande ou pequeno, ser feliz. Sentir.. Sentir.. Ser.. Ser..

Sentir e ser mil e uma coisas diferentes e iguais, sentir mal ou bem, ser mais, ser melhor.

A verdade é que uma pessoa pode fazer sentir e ser tudo, muitas coisas ao mesmo tempo, enquanto sente e é.

Grande poder e, no entanto, tão perigoso.
E as pessoas cada vez o sabem usar pior, ou melhor, depende do ponto de vista.

Pessoas que nos fazem sentir tão bem, ser tanto, podem, num momento, fazer-nos sentir tão mal e ser tão pouco.

Um turbilhão de "sentires" e "seres" que nada mais são que o sentir e ser do outro, quando conosco, em nós.

Mas consegue piorar..
Piora quando tudo é sentido e sido porque, simplesmente, se pensa poder fazer sentir e ser de tal forma.
Quando, por sempre ter estado, parece garantido que lá vai estar para sempre, mesmo quando sentimos e somos menos bons.

Mas nada está garantido..

E é por isso que temos que ser sempre o melhor de nós, em cada situação, em cada momento e para cada momento.

Porque momentos são momentos, momentos que podem não ser muito, momentos que podem significar tudo.
Porque cada momento é um, mas a vida é feita de momentos, momentos atrás de momentos.

Temos que ser o melhor, mesmo quando nos sentimos ou nos fazem sentir menos bem, quando somos ou nos fazem ser menos, porque é ao sermos melhores que somos inteiros, que somos maiores.
Temos que ser esse melhor quando nos sentimos bem e somos mais também.
Temos que ser inteiros.

E nada está garantido..


Apetece-me falar sobre pessoas, para pessoas.









domingo, 24 de outubro de 2010

Somos do tamanho do que vemos, não do tamanho da nossa altura.. ♥

Hoje estive com uma pessoa, uma pessoa que de tão pequena foi grande.
Uma grande pequena pessoa que conseguiu que pessoas grandes se sentissem ainda mais pequenas.

Ao certo o que aconteceu não me recordo, não estava atenta.
Um vaso partido, uma porta que bateu com mais força, uma nódoa na camisa..
Não sei, estava distraída, até que essa pessoa pequena falou, no meio de muitas pessoas grandes que, convencidas da sua razão, lhe chamavam a atenção para tal traquinice.

Olhou em volta, olhou para si e para os outros, e disse, sem hesitar:
'Mas.. Eu não percebo.. Tu estás bem, eu estou bem.. Sabes, o que interessa é a vida..!'

No seu olhar mostrou a maior das clarezas, como se todos nós, as pessoas grandes, estivessemos complemente enganados, como se fossemos confusos, complicados, como se fossemos até burros..

Uma coisa tão simples.. Como não poderiamos nós perceber?

Bem, e até somos..

E eu fiquei a olhar.. a olhar para tal pessoa, com todo o seu pequeno tamanho, deixou sem palavras tantas pessoas tão maiores, tão mais crescidas.

Muitas vezes ouvi tal expressão, tal ideia.. Dita, escrita, pensada..
Mas, foi nesta pequena pessoa, que, pela primeira vez, me pareceu sentida..
Ela disse-o sem rodeios, de forma simples, como se de algo incontestável fosse. Disse-o sem qualquer outra intenção ou significado, disse-o porque o sente como verdade, porque para ela faz sentido..

Pensei mil coisas e, ao mesmo tempo, em nada.
Tenho saudades.. Tenho saudades de ser livre, dessa maneira.
E eu continuei a olhar.. Para aquela pessoa que de tão pequena, foi grande :)


Essa pessoa, esse pequena pessoa que foi tão grande, maior que todos, é o meu afilhado.. Tem 5 anos.

(Com orgulho, Adoro.te ♥)

sábado, 23 de outubro de 2010

Quero (apenas) sentir ♥


Sinto-me entediada, com pouca inspiração, mas de todo feliz.
Não sei porquê, não sei a razão, mas hoje sinto-me bem, sinto que as coisas mudaram, melhoraram.
Nem tudo está bem, também não esperava o contrário, mas o que está, está óptimo.

Sinto-me bem comigo, sinto-me bem com o que me rodeia.
Não sei porquê, não quero saber, estou bem agora, não sei o dia de amanhã e há muito tempo que não me sentia assim.

Reli o que escrevi até agora e percebi, contei, contei o número de vezes que usei a expressão 'não sei'.. e não sei porquê ou para quê..

Porque tenho que saber? Porque tenho que pensar e perceber?

Na minha vida vivida, muito sinto, mas muito penso também, penso demais, sei demais daquilo que penso não saber e não perceber. Talvez saiba e perceba mais do que o que acho. Não sei, mas também não quero saber.

Pensar, saber, perceber, apaga o sentir, torna-o menos verdadeiro por ser pensado, percebido. Isso eu sei.

Não quero pensar mais hoje, não quero!
Quero sentir, quero sentir mais e mais e mais..

Vou ficar na minha vida pensada, porque nessa eu só sinto, sinto o Mundo como é e o Mundo sente-me como sou.. Isso sim, é vida, pelo menos, mais minha, mais nossa.

E como era vazia e incompleta sem todos que fazem parte dela e quem a ela também pertence, à minha-nossa vida, dedico então este meu primeiro texto e deixo um obrigada sentido, nunca pensado. Um obrigada por me fazerem sentir e ser, mas, principalmente, por cá estarem, por cá sentirem, por cá serem, comigo ♥